sexta-feira, 29 de maio de 2015

LÁ VEM A GORDA

Certo dia li um texto muito bom que se chamava “Porque eu não saio mais com caras que preferem as gordas”. Eu, como pessoa gorda desde (quase) sempre, acabei me identificando com o conteúdo imediatamente. A autora dizia basicamente que existe uma diferença quase fundamental entre GOSTAR de gordas e PREFERIR gordas. Vem cá que a tia te explica como funciona.


Ser gordo é essencialmente uma merda. A gente aguenta desde cedo pessoas apontando o dedo e dizendo que é um crime ser como você é. Que é repugnante, que “gordo” é ofensa, que sua saúde isso, que seus namorados que nunca vão existir aquilo... E não preciso nem falar da barra que é encontrar roupas que não sejam bizarras ou com estampa de onça. Gente, novidade pra vocês: nem toda gorda quer usar animal print cafona. Conseguir um emprego também se torna uma tarefa mais difícil porque, afinal, somos preguiçosos e não estamos aptos a fazer qualquer coisa que não seja comer. Resumindo, a nossa relação com a autoestima tem tudo pra dar errado, por esses e outros motivos. E não me digam que é só “se bastar”, porque é bem mais complexo que isso. Nem todo mundo aguenta tomar porrada a vida inteira e não se sentir derrotado. 

E aí entra o lance dos rapazes que GOSTAM de gordas e os que PREFEREM as gordas. Os caras que gostam de mulheres gordas são aqueles que consideram elas bonitas independente de qualquer padrão estético, que sentem tesão em corpos mais robustos e blá blá blá. Às vezes rola até um fetiche - o que me repele um pouco, confesso. Já os caras que preferem as gordas, geralmente procuram na fragilidade da autoestima a oportunidade PERFEITA pra ser babaca. Isso porque o ser subentende que, por eu ser gorda (e, portanto, “menos atrativa”), vai ser bem mais fácil me persuadir a transar com ele e/ou fazer o que quiser. Já conheci diversos homens que juravam que estavam me fazendo um favor ao sair comigo. Já ouvi de ex-namorado que eu não deveria terminar com ele porque, por eu ser gorda, outros caras não iriam querer ter um relacionamento sério com alguém como eu.

Percebi depois de anos que esses caras tendem a se relacionar com mulheres assim pela facilidade de manipulação, usando do terrorismo psicológico em volta do: “Hm... Tem certeza que não vai fazer o que eu mando? Acho que você vai ficar sozinha pra sempre. É isso que você quer?”. E isso só funciona com algumas de nós porque, de fato, durante uma vida toda somos ensinadas que valemos menos que as outras. Por isso também o medo da “solidão” é tão iminente.

E aí vocês me perguntam: “Mas, Alessandra, se você sofre tanto, por que você não emagrece?”. E, amigos, eu lhes respondo: eu não deveria precisar fazer uma dieta pra me sentir completa, feliz e amada. Ninguém deveria. 

quarta-feira, 27 de maio de 2015

HATERS GONNA HATE

Odeio novela. Odeio pau de selfie. Odeio aquela menina. Odeio mais ainda aquela roupa. Odeio gente que aplaude o pôr do sol. Odeio o que é gourmet. Odeio meu ex. Odeio BBB. Odeio você e todo mundo que te apoia.


Vocês já perceberam a quantidade de tempo e energia que a gente gasta odiando as coisas? É incrível. As redes sociais estão cada vez mais infestadas de discursos desse tipo e quem endossa esse comportamento violento somos nós mesmos. Mas por quê?

Porque é muito mais fácil criticar que elogiar, ué. E muito mais gostoso também. Nenhum de nós quer admitir, mas no fundo sentimos aquela pontinha de superioridade quando declaramos ser contra alguma coisa, afinal, por algum motivo ela ofende o nosso tão elaborado intelecto: “É sério que você escuta funk? Justo você, uma pessoa tão culta...”. “Justo você”? Sério que gostar de uma coisa me coloca abaixo na cadeia alimentar? É possível que isso invalide e torne negativa toda construção da minha personalidade durante os anos? Funk é antônimo de cultura? Doido, hein?! Nem sabia.

E percebam que esse papinho serve pra qualquer coisa que seja mainstream no momento. Uso o exemplo do funk porque eu mesma já falei essas coisas. Tive a minha fase ~chatinha pseudocult do heavy metal~ e acreditava piamente que funkeiros deveriam ser exterminados, usando de um discurso fascista que só. Uma menina de treze anos desejando de coração que pessoas sumissem da face da terra por conta do estilo de música que gostavam. Pra mim não importava o funk como manifestação cultural, comunicação ou arte. A capacidade de incorporar o preconceito e a intolerância estavam em mim e eu sequer notava. 

Hoje o que me incomoda é ver amigos aos 20, 30 e 50 anos com alguma experiência de vida, que se dizem tão estudados e conscientes, falando a mesma coisa que eu inocentemente dez anos atrás. E eu não quero acreditar que qualquer tipo de ódio - mas especialmente o gratuito - pareça racional pra alguém. 

Acho que no fundo o que temos que nos perguntar de verdade é: “Por que eu odeio isso?” Lembrando que “porque eu quero” não é a resposta mais saudável ou madura. Você não é obrigado a gostar de nada, mas... Deixemos as pessoas ouvindo funk (com fones de ouvido) em paz. Deixa a galera de humanas aplaudir o pôr do sol. Deixa a amiga ir na cervejada usando sombra azul. Deixa o irmão comentar BBB no twitter. Paremos de nos incomodar tanto com o que faz os outros felizes e procuremos o que nos agrada e faz bem. Eu tô tentando... E você? 

sábado, 23 de maio de 2015

MANDA NUDES

Hoje em dia tudo é sexo. É sexo como propaganda, aplicativo para conseguir sexo, sexo na música, na novela, no cinema, grupo sobre sexo no whatsapp. Sexo por sexo. E não é que eu não goste da coisa, meus amigos. Eu só não entendo a necessidade de fazer com que uma coisa tão natural vire o centro – se não o objetivo – de todas as relações humanas.


Eu me lembro de quando era adolescente. Da empolgação em visitar o perfil no Orkut (sdds) daquele moço bonito e tão inteligente que havia conhecido no centro da cidade, esperando que ele me visitasse de volta. De, talvez, pedir seu MSN e começar a conversar. Perguntar sobre suas músicas preferidas, sobre o último filme que viu, suas aspirações e até tentar entender o porquê de ser corintiano. Pra mim aquele era o processo de conhecer alguém e demonstrar interesse. E o objetivo era, sei lá, muito provavelmente andar de mãos dadas e dar meia dúzia de beijos na praia. Não porque eu não pensava em sexo naquela época, ou porque os caras não pensavam. Essa só não parecia ser a recompensa óbvia.

A verdade é que hoje eu me sinto bombardeada por uma quantidade quase ofensiva de caras que não sabem o meu sobrenome, mas insistem em pedir que eu mande ~nudes~. De uns que comemoram quando ficam solteiros ou quando a namorada viaja. De rapazes que vão parar de falar com você no instante em que mencionar que sexo casual não é a sua. Dos que se vangloriam de ter feito sexo com mais mulheres que seus amigos. De outros que sequer tem interesse em falar de fato com você, mas te convidam pra ir ao bar e aguentar uma ou duas horas de conversa pra ver se conseguem te persuadir a dar pra eles no final. E eu simplesmente não consigo achar isso atraente. Correndo o risco de soar pudica, não me interessa esse tipo de relação. Pra mim sexo não é obrigação, é consequência.

Não tô aqui pra criticar quem gosta e aproveita de relacionamentos rápidos. Cada um faz o que quiser, com quem quiser e durante o tempo que quiser. Eu só queria lembrá-los que as pessoas também podem se relacionar com as outras por uma boa conversa, pela companhia para assistir filmes ruins, dar risadas de qualquer coisa e até mesmo se permitir gostar. E que isso não é uma desvantagem como todo mundo faz parecer.